2022-05-09 Fonte: Ponto Final
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Zhuhai deverá introduzir nova legislação no futuro para que profissionais de saúde de Macau, Hong Kong e estrangeiros possam exercer na Ilha da Montanha. Ao PONTO FINAL, os médicos de Macau mostram-se optimistas quanto à possibilidade, mas estão à espera de mais pormenores.
Há nova legislação a caminho para permitir que médicos estrangeiros, de Macau e de Hong Kong possam exercer em Hengqin. De acordo com uma nota no site das autoridades de Hengqin, Zhuhai vai introduzir novos regulamentos para permitir que mais profissionais de saúde de Hong Kong, Macau e estrangeiros trabalhem na Zona de Cooperação Aprofundada de Gaungdong-Macau.
A legislação a ser implementada tem como objectivo “proporcionar mais comodidade aos residentes de Macau para trabalharem e viverem na Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin”. As novas regras de qualificação profissional transfronteiriça também já tinham sido aplicadas em outras áreas, como a arquitectura, o direito e turismo, por exemplo.
Recorde-se que um total de 204 residentes de Hong Kong e Macau já foram credenciados para exercerem advocacia em cidades da Grande Baía. Há também 60 médicos de Macau que exercem as suas funções no Hospital de Hengqin. Anteriormente, os médicos de Hong Kong e Macau tinham de passar nos exames de qualificação do continente para exercerem nos hospitais do continente. No entanto, agora também podem receber qualificações, inscrevendo-se no local da prática.
MÉDICOS DE MACAU DIZEM QUE MEDIDA TRARÁ BENEFÍCIO AOS CLÍNICOS LOCAIS
Chan Iek Lap, médico local e deputado à Assembleia Legislativa (AL), diz ao PONTO FINAL que esta é uma iniciativa “muito boa”, uma vez que vai permitir que “os profissionais de saúde locais tenham mais escolhas e mais caminhos para as suas carreiras”, já que Macau “é uma cidade pequena”.
No entanto, no seu entender, a iniciativa vai favorecer os médicos mais experientes, e não tanto os jovens acabados de formar. “Os jovens da nossa profissão enfrentam sempre dificuldades no início da carreira, sem receber muito dinheiro nos primeiros empregos, até às vezes têm de gastar o seu dinheiro para aprender nas clínicas ou hospitais”, refere, apontando que os novos hospitais deverão querer recrutar médicos mais velhos e experientes.
“No entanto, acho que pode haver mais políticas de subsídios para ajudar os jovens médicos a terem oportunidades para trabalhar, aprender e formarem-se em hospitais de Hengqin, para que possam iniciar a sua carreira com menos dificuldades”, sugere.
A legislação que vai facilitar o exercício da medicina por clínicos de Macau em Hengqin reflecte o “projecto global que é a integração de Macau na Grande Baía”, comenta Mário Évora. O médico diz também que “é positivo”.
O cardiologista lembra que há médicos do interior da China que exercem a profissão em Macau e diz que tornar esse intercâmbio bilateral seria “um avanço”. “Não é só trazer profissionais da China para aqui, mas também levar daqui para a China, com especial incidência em Hengqin, que é uma zona que politicamente está decidida como sendo o próximo passo, um passo específico e concreto no acesso de Macau ao mercado da China, progressivamente”.
Mário Évora diz mesmo que ele próprio não rejeitaria trabalhar em Hengqin no futuro: “Não colocaria de parte exercer em Hengqin a partir do momento que eu visse que teria vantagens”. Para ser mais aliciante para os profissionais da saúde de Macau quererem exercer em Hengqin, “as condições de trabalho, técnicas e remuneratórias” são factores-chave, na opinião de Évora.
O médico Rui Furtado também concorda com a ideia, frisando que é necessário haver um sistema de credenciação dos médicos locais para trabalharem no interior da China. “Acho que é uma boa ideia, desde que os médicos estejam credenciados para isso. Tem de haver alguém que credencie os médicos”, reitera. Furtado aponta que a possibilidade traria benefícios aos médicos de Macau, uma vez que deverá proporcionar mais oportunidades de trabalho. Rui Furtado aproveita também para dizer que os médicos do serviço público em Macau deveriam poder exercer em instituições privadas, não só em Hengqin, mas também em Macau.
Victorino Trovoada diz também que esta é “uma boa iniciativa, porque Macau é um território muito pequeno e haver uma região onde os médicos de Macau possam exercer, claro que é sempre uma mais valia”. Também o pediatra chama a atenção para as limitações dos médicos do serviço público de Macau, que poderão ser colmatadas com esta iniciativa de Hengqin.
Para atrair médicos de Macau para Hengqin, “será preciso que haja garantias de que os médicos possam exercer na plenitude das suas funções do outro lado”. Notando que ainda são escassos os pormenores da medida, o médico diz que, “se houver condições e se se puder exercer de forma conveniente em Hengqin, claro que as pessoas vêem com bons olhos”. Por outro lado, o médico Peres de Sousa nota que ainda não são conhecidos detalhes sobre a iniciativa e, por isso, diz apenas que não acredita que a possibilidade de exercer em Hengqin “seja importante para os médicos portugueses” em Macau.